Aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), já têm a receita para pressionar o vice-presidente Michel
Temer a cumprir compromissos firmados para a aprovação do impeachment da
presidente Dilma Rousseff. Eles pretendem manter a ameaça de apoiar a
abertura de um pedido de afastamento contra o vice.
O principal
objetivo dos aliados de Cunha é evitar a cassação do mandato dele. Para
isso, contam com a ajuda do vice. Exigem que Temer não faça qualquer
tipo de interferência no processo que no Conselho de Ética. Esperam,
sobretudo, que ele não dê nenhuma declaração desfavorável ao presidente
da Câmara.
Segundo aliados de Cunha, sempre que Temer for
questionado sobre o assunto, deverá dar uma resposta padrão: “Trata-se
de um assunto interno da Câmara”. Por ora, não há atritos entre Cunha e
Temer. Muito pelo contrário. Os dois se falam por telefone diariamente
e, pelo menos uma vez por semana, almoçam ou jantam juntos.
O presidente da Câmara ainda não tem nenhuma queixa contra o correligionário. E confia no vice. No entanto, conforme o Estado
apurou, aliados de Cunha recomendaram que ele tivesse “uma carta na
manga” para pressionar Temer caso seja necessário. Um dos defensores da
ideia foi o deputado Paulinho da Força (SD-SP).
A ideia surgiu há
duas semanas, mais especificamente quando Cunha discutiu com seus
aliados a necessidade de pressionar do plenário do Supremo Tribunal
Federal (STF) a reverter a obrigatoriedade sobre a instalação de uma
comissão especial para o impeachment de Temer.
A decisão liminar
(provisória) foi concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello. No
dia 5 de abril, ele aceitou um mandado de segurança apresentado pelo
advogado Mariel Marley Marra, de Minas Gerais, que questionara o
arquivamento do pedido de impeachment contra Michel Temer.
Em
dezembro passado, Cunha havia arquivado a apresentação do pedido de
afastamento contra o vice. Temer é acusado de ter assinado, como
presidente em exercício, decretos suplementares ao Orçamento – um dos
motivos que justificaram a acusação de crime de responsabilidade contra
Dilma.
Ao analisar o caso, o presidente da Câmara concluiu que os
decretos de Temer foram assinados antes da revisão da meta de julho de
2015 e os de Dilma, Por esse motivo, ele concluiu que a presidente teria
cometido crime de responsabilidade e o vice, não.
Para Marco
Aurélio, o presidente da Câmara não deveria ter se manifestado sobre o
mérito do caso, por isso determinou que Cunha instalasse a comissão para
analisar o impeachment. A decisão do ministro do STF deixou Cunha
enfurecido. Imediatamente, ele resolveu recorrer à Suprema Corte.
Contudo, nas últimas semanas, não insistiu no caso depois que foi
alertado por aliados que um pedido de impeachment contra Temer pudesse
ser usado para pressionar o vice.
Cunha e Temer atuaram juntos nas
estratégias de aprovar o impeachment de Dilma. O presidente da Câmara
cuidou desde a formação da cúpula da comissão especial até com a
conquista dos apoios dos partidos na reta final da votação em plenário.
No lado de Cunha, teve atuação expressiva o deputado André Moura
(PSC-SE).
Já pelo lado de Temer, a missão ficou com o ex-ministro
Eliseu Padilha, um de seus aliados mais próximos. No dia da votação do
impeachment, os dois visitaram as lideranças dos partidos juntos numa
demonstração clara de parceria.
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