Roberto Cavalcanti Politicagem

Publicada em 17/03/2014


Meus olhos estão cansados, fatigados mesmo, de testemunhar os bastidores da política nacional. E enxergar ano após ano – eleição após eleição – os fenômenos se repetirem em função de uma mesma lógica: oportunismo eleitoral.

É esta a chave mestra que dispara a grande engrenagem política brasileira. É ela que dita as direções; que dá ritmo aos movimentos de idas e vindas – aproximação e distanciamento – dos agrupamentos políticos.

Ou, talvez, esta fadiga que me acomete não seja fruto propriamente da repetição. Mas sim do aumento da voltagem com que o oportunismo, aliado ao fisiologismo, operam as relações políticas neste Brasil de 2014.

Acordos oportunistas e barganhas por ocupação de espaços nas hostes do poder sempre estiveram presentes nos bastidores da política nacional. Mas nunca – repito, nunca – com tamanha falta de pudor.

Caciques das principais legendas revelam, sem temor nem constrangimento, as cartas que são postas nas mesas de negociações.

Onde terei melhores oportunidades de disputa? Em que agrupamento poderei me posicionar em direção aos melhores cargos? Quem pode alavancar meu potencial eleitoral? São essas as perguntas.

Não se coloca mais nesta balança ideologias, compromissos, perfis partidários.

E, a despeito disso, o eleitor brasileiro segue – embora mergulhado no desgosto – validando a politicagem.

E, cá prá nós, desse processo não pode sair coisa boa. Se elegemos um cidadão cujo perfil é notoriamente marcado pelo oportunismo, é quase um contrassenso (ou no mínimo ingenuidade) esperar que ele atue, após eleito, em favor da pluralidade. Ele, obviamente, vai continuar favorecendo a quem interessa. Ou seja: ele mesmo.

Claro que a salada louca de siglas, e a quase ausência de opções partidárias/ideológicas, deixam o eleitor brasileiro sem opções. Ou rumos a seguir.

Em um país como os Estados Unidos, por exemplo, as plataformas políticas são nítidas. De um lado estão os republicanos; doutro os democratas. E eles têm perfis claros. Os americanos sabem, de antemão, o que vão colher da semeadura eleitoral.

No Brasil, porém, é missão quase impossível identificar quem é quem na fartura de partidos. Afinal,que perfis podemos traçar se as mudanças ocorrem a cada eleição, ao sabor das conveniências?


O jogo é tão duro, e tão escancarado, que não adianta tentar eufemizar: ao invés de plataformas e ideais entram em cena negociatas e chantagens que transformaram a dinâmica política em um ringue de vale tudo (com perdão aos ringues reais de vale tudo, onde – entre joelhadas, socos e pontapés – ainda existem regras para evitar golpes baixos).

Na política vale até isso.

Ou exagero ao qualificar como golpe rasteiro o movimento de formação e decomposição de grupos por puro senso de oportunidade?

É sim golpe baixo sobre a essência da política.


E do tipo mais mesquinho: aquele em que prevalece o favorecimento pessoal.

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