27/06/2016 às 09h16
Do
apoio do Planalto em disputas locais a indicações para cargos em
estatais e até para o comando do BNDES – o maior financiador de empresas
do país -, o presidente em exercício Michel Temer está sendo pressionado por senadores em troca de apoio no julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. A votação final está prevista para acontecer até o fim de agosto.
Por
causa do assédio, Temer tem recebido parlamentares no Palácio do Jaburu
para almoços, jantares e reuniões, marcados muitas vezes fora da agenda
oficial. Nos encontros, escuta mais do que fala. “O Temer está
comprando a bancada. É uma compra explícita de apoio”, disse o senador
Roberto Requião (PMDB-PR), peemedebista contrário à saída de Dilma.
Para
interlocutores do governo no Senado, o “movimento” nada mais é do que
uma lista de demandas. O caso mais pitoresco, segundo relatos de três
senadores próximos a Temer, é o de Hélio José (PMDB-DF). Ele pediu 34
cargos, entre os quais a presidência de Itaipu, Correios, Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e até o comando do BNDES. O
senador foi convencido por colegas da inviabilidade dos pedidos e do
risco político que correria em sua base se apoiasse Dilma. Não levou
nada e ainda decidiu votar pelo afastamento.
O senador Romário
(PSB-RJ), que votou pela admissibilidade do impeachment, ficou indeciso
sobre o afastamento definitivo poucos dias depois. A dúvida foi
comunicada ao Planalto acompanhada de uma fatura. Ele pediu o comando da
Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência e
uma diretoria em Furnas. A primeira vaga já havia sido prometida para a
deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP). Cadeirante e militante histórica, ela
queria emplacar um nome da área. Romário ganhou apenas o cargo, que
ficou com a ex-deputada Rosinha da Adefal.
Ex-presidente do
Cruzeiro, o senador Zezé Perrella (PTB-MG) conseguiu pôr seu filho,
Gustavo Perrella, na Secretaria Nacional do Futebol e de Defesa dos
Direitos do Torcedor. Em outra frente de pressão, Temer é cobrado a se
posicionar politicamente em disputas locais. O caso mais emblemático é o
do Amazonas, onde o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), aliado
do senador Omar Aziz (PSD), é adversário do senador Eduardo Braga
(PMDB). Todos são aliados de Temer e estarão em lados opostos na eleição
municipal.
O senador peemedebista reivindica o apoio do
presidente em exercício para seu candidato, Marcos Rota. Já Aziz quer
que Temer ajude Virgílio. No Placar do Impeachment do Estado, Braga
consta como indeciso e Aziz não quis responder. Temer enfrenta o mesmo
dilema no Paraná, onde dois aliados, o governador Beto Richa (PSDB) e o
senador Álvaro Dias (PV), são adversários políticos e disputam
influência em Itaipu.
Contas
Pela
estimativa do Planalto, a cassação de Dilma está nas mãos de 15
senadores. Hoje, 38 se posicionam a favor do impedimento – são
necessários 54. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, se
recusa a revelar a “estratégia” para evitar a volta da petista. “Não vou
revelar nomes, mas temos um controle diário dentro do Senado. Temos
informação do movimento de todos, até mesmo daqueles que se dizem
indecisos”, disse, em um almoço com empresários na semana passada.
O
titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, confirmou que tem
dialogado com senadores que buscam espaço no governo. “As conversas
estão sendo republicanas e não está havendo essa pressão que se imagina,
não”, afirmou. As articulações são criticadas pela oposição. “Quando há
um processo de julgamento de uma presidente, há uma alteração da
condição do senador, que vira juiz.
No período do julgamento, ele
não pode negociar posição com cargo”, disse o senador Lindbergh Farias
(PT-RJ). Senadores que estiveram com Temer disseram que não trataram do
afastamento. “Ele não tocou no assunto. Eu disse que ele precisava de
uma agenda para os excluídos e perguntei quem iria pagar pelo ajuste”,
disse Cristovam Buarque (PPS-DF), indeciso sobre o voto final e que
também visitou Dilma. Na admissibilidade, ele votou contra a presidente.
Hélio
José relativizou suas demandas. Ele disse que sugeriu nomes “apenas
quando foi consultado” e considerou um “folclore” a lista de cargos que
teria apresentado. A assessoria de Romário afirmou, por meio de nota,
que não houve negociação por seu voto no impeachment e negou a demanda
por uma diretoria em Furnas. Procurados, Perrella, Braga e Aziz não
foram localizados. Álvaro Dias disse que “quer distância” de cargos.
0 comentar:
Postar um comentário
obrigado e comente sempre