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Entenda como vai funcionar o julgamento do ex-presidente Lula


Quando será?

O julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
e mais seis réus será no dia 24, às 8h30, na sala de sessão da
8ª Turma, na sede do TRF-4, em Porto Alegre.

Qual é a acusação? O ex-presidente foi condenado em julho de 2016 na 13ª Vara Federal de Curitiba,
pelo juiz Sergio Moro, a nove anos e seis meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Lula é acusado de ter supostamente recebido propina da OAS,
por meio do tríplex no Guarujá e no depósito do acervo presidencial,
em troca de favorecimentos à construtora em contratos com a Petrobras.
Será a 24ª apelação julgada pelo TRF-4 contra sentenças proferidas em ações
oriundas da Operação Lava-Jato.

Quem será julgado?

Além de Lula, recorreram contra a sentença o ex-presidente da OAS
José Aldemário Pinheiro Filho (condenado em primeira instância a
10 anos e 8 meses), o ex-diretor da área internacional da OAS,
Agenor Franklin Magalhães Medeiros (condenado a 6 anos), e
o ex-presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto (absolvido em primeira instância,
mas requer troca dos fundamentos da sentença). O MPF recorreu contra a absolvição em primeira instância
de três executivos da OAS: Paulo Roberto Valente Gordilho, Roberto Moreira Ferreira e Fábio Hori Yonamine.

Como será a sessão?

Três desembargadores votarão. O presidente da 8ª Turma,
desembargador federal Leandro Paulsen, abrirá a sessão e será seguido pelo relator,
desembargador federal João Pedro Gebran Neto, que fará a leitura do relatório do processo.
O MPF terá 30 minutos para fazer sua manifestação. Na sequência,
os advogados de defesa terão 15 minutos para cada réu,
o que deve levar em torno de duas horas. Em seguida,
o relator vai ler seu voto e passará a palavra para o revisor,
desembargador Leandro Paulsen, que profere o voto. Em seguida, votará o desembargador federal
Victor Luiz dos Santos Laus. O presidente da turma proclamará o resultado.
A tendência é de o julgamento acabar no mesmo dia mas, se os votos forem muito extensos,
a sessão poderá ser suspensa e retomada no dia seguinte.

O julgamento pode ser adiado?

Sim, pode haver pedido de vista. Neste caso, o processo será decidido em sessão futura.
É pouco provável, no entanto, dada a dimensão do julgamento.

O processo acaba no
dia 24?

Não. Tanto o MPF quanto a defesa de Lula podem recorrer da decisão ao
TRF-4, STJ e STF.

Se Lula vencer, o MPF pode recorrer?

Sim, pode apresentar embargo de declaração ao TRF-4,
 recurso especial ao STJ e recurso extraordinário ao STF.
O MPF pediu o aumento da pena do ex-presidente.
Se Lula for condenado, mas sua pena for reduzida ou mantida, o MPF também pode entrar com recursos.

E se Lula for condenado por 3 X 0?

A defesa pode entrar com embargos de declaração até dois dias após a publicação do acórdão para
pedir esclarecimentos sobre omissões ou pontos obscuros da decisão.
Em geral, não modificam a sentença, exceto em casos excepcionais
como a falta de análise de um ponto relevante da defesa.
O recurso é encaminhado ao relator e julgado pela própria 8ª Turma.
Em geral, os embargos de declaração são julgados nas sessões seguintes à apresentação dos recursos.

E se Lula for condenado por 2 X 1?

Além dos embargos de declaração, a defesa pode entrar com embargos infringentes
até dez dias após a publicação do acórdão para pedir a prevalência
do voto mais favorável ao condenado. O recurso é apresentado ao relator e julgado pela
4ª Seção, que reúne os seis desembargadores da 7ª e 8ª Turmas e é presidida pela vice-presidente do TRF-4,
Maria de Fátima Freitas Labarrère. A estimativa é que esses embargos,
se apresentados, sejam julgados em no máximo 60 dias.
Depois disso, a defesa ainda pode entrar com embargos de declaração
ao acórdão dos embargos infringentes até dois dias após a intimação.

Se perder no TRF-4, Lula pode recorrer?

Sim, ao STJ e ao STF, com uma medida cautelar pedindo o efeito suspensivo do acórdão condenatório.

Se for condenado, Lula poderá ser preso no dia 24?

Não no mesmo dia do julgamento. O ex-presidente pode recorrer ao TRF-4 e só pode ter ordem de prisão expedida depois que todos os recursos nessa Corte forem esgotados. Encerrada a tramitação no TRF-4, Lula poderia ser preso, de acordo com entendimento do Supremo. Mas a defesa pode ingressar com recurso especial ao STJ e com recurso extraordinário ao STF. Para evitar a prisão, pode entrar com habeas corpus no STJ e pedido de efeito suspensivo tanto no STJ quanto no STF.

Passaporte do ex-presidente poderá ser apreendido?

Se for condenado, sim. É uma das previsões legais.

Lula irá a Porto Alegre?

Não há definição. O mais provável é que fique em São Paulo e participe de um ato na capital, depois do julgamento. No dia 25, o PT deve reafirmar a candidatura de Lula à Presidência da República, durante reunião do comando partidário.

Lula poderá disputar a Presidência se a condenação for mantida?

 Lula se tornará inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. A apresentação de embargos pode suscitar o debate sobre a suspensão da inelegibilidade, mas na prática não muda nada, porque eles devem ser julgados rapidamente e, mantida a condenação, ele voltaria a estar inelegível. A inelegibilidade se “materializa” na inscrição da candidatura, que deve ser feita de 20 de julho a 15 de agosto. Se a candidatura for indeferida pelo TSE, Lula pode apresentar embargos ao TSE ou recurso extraordinário contra o indeferimento ao STF e concorrer sub judice, participar de debates, fazer campanha e utilizar recursos do fundo eleitoral. No entanto, em caso de vitória na eleição, só será diplomado se até a data da diplomação conseguir derrubar a inelegibilidade no TSE ou reverter a decisão do TRF-4 no STJ ou no STF. Juristas acreditam que seria “surpreendente” se o STJ e o STF julgassem o caso ainda neste ano: os recursos de Lula vão entrar na fila e os dois tribunais não costumam se mover pelo calendário eleitoral.

PT poderá substituir o candidato?Poderá se a candidatura de Lula for impugnada até o dia 17 de setembro, 20 dias antes da eleição, prazo máximo definido pela lei.

Lula é réu em outras ações penais?Há outras seis ações penais contra Lula e três denúncias contra o ex-presidente.

Fontes: Silvana Batini Cesar Góes, procuradora regional da República e professora da FGV-RJ; Carlos Eduardo Scheid, criminalista, professor de direito processual e direito penal na universidade Unisinos (RS) e sócio do Scheid & Azevedo Advogados; Tony Chalita, sócio do Braga Nascimento e Zilio Advogados, especialista em Direito Constitucional e Eleitoral; Antônio Augusto Mayer dos Santos, advogado especializado em direito eleitoral.
Valor

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