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Alan Ruschel chora, fala em milagre por andar e planeja volta em 6 meses

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Sportv
 


Primeiro sobrevivente brasileiro do acidente aéreo com a delegação da Chapecoense a ter alta, o lateral Alan Ruschel concedeu uma entrevista neste sábado em Chapecó e disse que estar andando é um milagre. Emocionado antes mesmo de começar a fala, o jogador, um dos seis sobreviventes da tragédia do dia 29 de novembro, conseguiu manter a calma e responder à maioria das perguntas sem pausas. Ele também expressou muita gratidão com o tratamento que recebeu na Colômbia e no Brasil desde que acordou na clínica em Medellín.

"Um momento que caiu aquele avião Deus me pegou no colo e falou que eu tinha mais missão aqui na terra, por isso ele não me levou. A única explicação, são dois milagres: eu estar vivo e o milagre de eu poder estar andando. Os médicos falaram que foi uma lesão grave que eu tive na coluna. Poder estar andando, é milagre de Deus", afirmou o jogador.

Logo em sua primeira resposta, e emoção por tudo que viveu veio à tona. "Acho que não tem palavras para explicar o que eu estou sentindo. É uma mistura de sentimentos. Uma alegria por poder estar aqui de novo, sentado aqui. Mas ao mesmo tempo um luto por ter perdido vários", disse, antes de cair no choro.

Ao longo da entrevista, Alan Ruschel voltou a se emocionar, chorou em alguns momentos, mas também mostrou bom humor e fez planos para o futuro. Ele inclusive disse que em seis meses espera voltar ao futebol.

"Eu fiz os meus cálculos (sorri). Calculei três meses para calcificar, já se passou um quase, mais uns dois meses e meio para fortalecer bem a coluna e mais uns três meses para recuperar massa, que eu estou só na capa do grilo agora (risada), e depois voltar a jogar", disse.

Veja todos os trechos da entrevista:

Em honra dos amigos
 
(Me emocionei) Por ter perdido muitos amigos. Mas como eu postei uma foto esses dias, falando que seguir em frente honrando os que foram morar com Deus. Honrarei seus familiares que ficaram, que hoje estão sentindo a dor, farei de tudo para voltar a jogar, com muita paciência, mas farei de tudo para dar muita alegria para todo mundo que torce para a Chapecoense.

Lições do acidente
 
Temos que aprender a viver a vida. Nunca tinha planejado coisas para férias, final de ano. Estava indo para um jogo e simplesmente você não sabe se vai voltar, não sabe o que vai acontecer daqui dez minutos. O que eu levo de lição é aproveitar a vida e fazer o bem. O que fizeram comigo durante esses dias não tem explicação. O jeito que me trataram na Colômbia, aqui no Brasil, o que os médicos fizeram por mim não tem explicação.

Lembranças do acidente
 
Não. Eu lembro de sair de São Paulo, depois a gente chegando e Santa Cruz de la Sierra, depois saindo de lá. Não lembro do voo, do acidente. O que eu lembro depois é da minha esposa Marina falando no hospital.

Momentos de apreensão
 
Não sabia o que estava acontecendo e aos poucos foram me contando, e aos poucos a ficha foi caindo. Quando eu a vi eu não sabia o que estava acontecendo, não lembrava do jogo, não lembrava de nada. É uma coisa muito louca, não sei explicar o que aconteceu.

Mudança de assentos no avião
 
Teve (troca de lugares), quando a gente chegou em Santa Cruz de la Sierra a gente ia pegar o voo fretado e o Cadu pediu para eu sentar um pouco mais para frente para deixar os jornalistas sentarem no fundo. Na hora eu não quis sair dali... (pausa para um novo momento de emoção), aí eu vi o Follmann e por olhar para ele, ele insistiu para eu sentar com ele, aí eu saí de lá de trás e fui sentar com o Follmann. É uma parte que eu lembro.

Voltar para casa
 
É uma situação que todos vocês devem imaginar como é chegar em casa depois de dias de trabalho, viagem. Vocês sabem como é chegar em casa, ver sua família. Depois de toda essa situação, chegar em casa, dormir com minha esposa, ver meu cachorro, minha mãe, ter todo mundo em casa, para mim é uma sensação única, não tem explicação. Não tem palavras para descrever o momento que foi quando eu cheguei em casa.

Retorno à Chapecoense
 
Quando eu entrei aqui aqui, como eu falei para o Plínio (presidente, da Chapecoense), sensação de estar voltando para casa também. Falei para ele que vou dar muita alegria para ele, para todo torcedor da Chapecoense, com muita dedicação, esforço, trabalho, com certeza vou dar a volta por cima e voltar a jogar.

Falta de combustível no avião
 
Na verdade procurei nem falar muito do acidente, procurei evitar de ver, de olhar notícias, até para não ver coisas que de repente eu não iria gostar, mas pelo que deu para ver um pouco por cima aí, acho que teve um pouco de ganância.

Relação com Neto
 
O Neto é um amor de pessoa, cara. Neto... (pausa para o último momento de emoção da entrevista) é outro milagre de Deus, assim como Follmann, Rafael. O Neto é um cara sensacional, já tinha uma amizade boa com ele antes do acidente. A gente já se dava super bem, sentava do lado um do outro, quase, na bancada do vestiário. E hoje o Neto é um cara que eu vou levar para vida toda como um irmão para mim.

Voltar aos campos
 
Falei com o (Carlos) Mendonça (médico do clube) na Colômbia que queria voltar antes, mas o Mendonça falou que precisava calcificar primeiro a coluna, que daria pelo menos uns três meses, e com muita fisioterapia e trabalho ele via grandes chances de eu voltar a jogar. Eu fiz os meus cálculos (sorri). Calculei três meses para calcificar, já se passou um quase, mais uns dois meses e meio para fortalecer bem a coluna e mais uns três meses para recuperar massa, que eu estou só na capa do grilo agora (risada), e depois voltar a jogar.

Coisas simples da vida
 
Quando acontece esse tipo de situação a gente começa a dar valor para as coisas simples da vida. Eu estava falando para minha esposa que no hospital na Colômbia, como eu estava com vontade de tomar um café, pão, nata e presunto. Todo dia de manhã a gente levantava e eu tomava, comia. E lá não tinha. Eu falava para ela "estou com uma vontade que você não tem noção". A gente dá risada, brinca, mas são coisas simples da vida que a gente começa a dar valor. Não sei se o Mendonça sabe, mas o Edson (Stakonski, outro médico da Chapecoense) descobriu depois. Quando eu estava na UTI eu tomei uma Coca (risada). Não sentia gosto de nada, comecei a comer e não sentia. Odeio manga, comi uma manga inteira porque não sentia gosto. Falei para Marina. "Vai, compra uma Coca para mim. Quero sentir uma coisa diferente". Chegando aqui, a primeira coisa que eu pedi foi para comer um feijão, um arroz e um bife acebolado que para mim é o fundamental da alimentação e eu não estava comendo quase nada lá, e para mim foi muito bom.

Família Chapecoense e futuro do time
 
A Chapecoense, como a maioria de vocês viu, era muito mais que um time. A gente tinha uma família. No dia do jogo do Palmeiras, a gente estava voltando do jogo e eu conversando com o Anderson Paixão sobre logística e tal, e tocamos nesse assunto. "Cara, nesses últimos três meses foram muitos jogos, Paixão". Ele falou "a gente fica mais tempo junto que com a nossa própria família". Eu disse, "verdade, por isso a gente está onde a gente está e chegando onde está chegando". Porque a gente tinha dentro daquele vestiário uma união muito forte. Além de colegas de profissão, trabalho, a gente era amigo. Isso que eu vou levar da Chapecoense de antes do acidente. Para o futuro, espero voltar a jogar o quanto antes e poder levar o ambiente que carrego comigo de antes para o vestiário para os próximos atletas que chegarem aqui.

Promessa de churrasco aos médicos da Colômbia
 
Prometi (um churrasco), promessa é dívida. Vou pagar. Edson falou que é só proteína. Picanha, maionese da Marina... O Follmann tocando um violão para gente. Pretendo pagar esse churrasco o quanto antes. Vou agora para casa dos meus pais, ficar um dia com meu pai, depois planejar minha volta para cá para dar continuidade à fisioterapia, aos trabalhos aqui para voltar o quanto antes.

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