Alberto Bombig e Igor Gadelha - O Estado de S.Paulo
13 Junho 2016 | 05h 00 - Atualizado: 13 Junho 2016 | 05h 00
Presidente afastado da
Câmara descarta renúncia apesar de antigos aliados verem situação como
insustentável; Conselho de Ética vota parecer pela cassação amanhã
Brasília - O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
perdeu apoio do Palácio do Planalto, do PMDB e do Centrão (maior bloco
parlamentar informal do Congresso) na luta para manter o mandato. Antes
poderoso, o presidente afastado da Câmara está acuado por antigos
aliados, que o pressionam para que renuncie ao cargo na direção da Casa,
e pela Operação Lava Jato. Cunha vê a preservação do mandato como única
forma de não ser preso – ele teme que seus processos sejam remetidos a
primeira instância e fiquem sob cuidados do juiz Sérgio Moro.
Na
semana passada, Cunha foi procurado por dois parlamentares do Centrão,
grupo que ajudou a criar. Ambos o aconselharam a renunciar, pelo bem do
governo do presidente em exercício Michel Temer. Cunha se descontrolou
e, aos gritos, disse que jamais tomará essa atitude. A medida seria
vista como sinal de enfraquecimento, e isso poderia tornar inevitável a
cassação em plenário.
Na quinta-feira, dia em que a mulher dele, a jornalista
Cláudia Cruz, virou ré na Lava Jato por decisão de Moro, o deputado
mandou mensagens a integrantes do Centrão dizendo que não pode abrir mão
do mandato porque o juiz federal promoveria um “cerco” a ele e a sua
família. Aliados de Cunha admitem prognóstico desfavorável para votação no plenárioA estratégia para tirar Cunha de cena vem sendo chamada nos
bastidores do governo e do Congresso de “operação mão do gato”, numa
dupla referência ao gesto do felino de bater e recolher o braço
imediatamente e ao ato de agir sorrateiramente. O medo do PMDB e do
Planalto é de que Cunha, num gesto de vingança, possa fazer acusações
contra Temer e o partido. No Planalto, a avaliação é de que Cunha se
tornou um fator que só atrapalha o governo.
Criador e criatura. No Centrão, a convicção é
de que a “criatura se tornou maior do que o criador”, conforme a
definição de um líder ao falar do grupo e de Cunha. O objetivo do bloco é
manter o poder sobre o comando da Câmara e fazer o sucessor do
presidente afastado da Casa. Líderes do Centrão avaliam ser possível vencer a votação sobre
o processo que pesa contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara,
prevista para amanhã, e aprovar uma pena mais branda, como suspensão por
três meses. Para isso, contam com o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA),
que não assume publicamente a defesa da cassação do mandato.
No plenário, porém, o prognóstico é desfavorável ao
peemedebista. Por isso, parte do Centrão vê como alternativa mais viável
que o presidente afastado renuncie ao cargo – o gesto poderia convencer
parlamentares a aceitarem a pena branda.
“Hoje a situação está muito difícil. Chegou a um ponto muito
desgastante. Fica difícil apoiar”, afirma o líder do PR, Aelton Freitas
(MG). Segundo ele, no plenário será muito difícil para os deputados que
sustentam Cunha nos bastidores manter esse apoio, pois a votação será
aberta.
Vice-líder do PMDB e membro da “tropa de choque” de Cunha, o
deputado Carlos Marun (MS) admite que haverá votos contrários ao
peemedebista até na bancada, mas avalia ser minoria. “Obviamente não é
uma situação fácil, haja vista a pressão externa.”
No PP, o líder Aguinaldo Ribeiro (PB) apoia o presidente
afastado da Câmara nos bastidores, mas já é pressionado por seus
deputados por sua posição. “No momento em que o processo for à votação
em plenário, a maioria do PP não vota com Cunha. A maioria não está com
ele. O pessoal só não está manifestando isso em respeito ao líder”,
disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), da bancada ruralista.
No plenário, bastam 257 votos para a cassação de Cunha ser
aprovada. Hoje, nove partidos se declararam nesse sentido: PT, PC do B,
PDT, Rede, PSOL, DEM, PSDB, PSB e PPS, que somam 218 deputados. O
Centrão tem cerca de 220 parlamentares.
Além de articular a mudança no parecer do Conselho de Ética
que pede sua cassação, Cunha atua na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) para mudar as regras de votação do relatório no plenário e, com
isso, impedir que a recomendação por uma pena mais branda seja alterada
para uma punição mais dura. O processo por quebra de decoro foi aberto
há mais de 220 dias e tem como objeto a acusação de que Cunha mentiu ao
afirmar na CPI da Petrobrás, em 2015, que não possuía contas secretas no
exterior
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