03/12/2015 às 10h15
Em meio aos novos desdobramentos da crise política no Brasil, o jornal britânico Financial Times definiu
a capital federal, Brasília, como uma “versão tropical dos Jogos
Vorazes”, em alusão à série de filmes homônima em que os
personagens lutam por sobrevivência.
Segundo o jornalista e editor
de América Latina do diário, Jean Paul Rathbone, que assina o artigo,
publicado na versão eletrônica do diário, os políticos brasileiros
“estão agora mais preocupados em salvar as suas próprias peles do que
lidar com uma preocupação mais premente: a economia”, escreveu ele.
Na
terça-feira, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a soma dos bens e
serviços produzidos pelo país, recuou 1,7% no terceiro trimestre de
2015, o pior para o período desde o início da série histórica, em 1996.
Como o resultado, a economia brasileira permanece em recessão (quando há
dois trimestres consecutivos de queda).
Rathbone citou “razões
políticas” para a abertura do processo de impeachment contra Dilma,
diante da escalada de tensão entre o governo e o presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha.
“A razão imediata para o possível
impeachment é a acusação de que seu governo maquiou as contas públicas
(as chamadas “pedaladas fiscais”) – um assunto técnico. Mas a razão para
que o processo do impeachment tenha sido lançado agora é puramente
política”, escreve Rathbone.
“Hábil operador dos bastidores, Cunha
esperava que o governo do PT apoiasse sua causa e o protegeria. Quando
esse apoio não veio, ele iniciou o processo de impeachment. A oposição,
farejando sangue, aderiu ao pleito”, acrescenta.
‘Ainda pode piorar’
Em meio à crise política e econômica, o jornalista destacou também que a situação do Brasil “ainda pode piorar”.
“A
economia está sofrendo sua pior recessão desde 1930. O Congresso está
fortemente afetado pela chamada operação Lava Jato que investiga o
escândalo de corrupção na Petrobras ─ e um senador (Delcídio Amaral) foi
preso na semana passada. E agora foram abertos os procedimentos para
dar início ao impeachment da presidente, Dilma Rousseff. Pode ficar
pior? A resposta curta é: sim”.
Segundo Rathbone, contudo, o “fim de Dilma” não é “iminente”.
“O
processo de impeachment é longo, sinuoso e altamente legalista; é pouco
provável que ele comece devidamente antes de fevereiro. Enquanto isso,
Cunha pode perder seu cargo – nesse caso o processo pode ser
interrompido. Além disso, mais políticos podem cair devido a acusações
de corrupção. Isso pode mudar o equilíbrio de votos e o poder no
Congresso de maneiras incontáveis”.
O jornalista britânico também
diz acreditar que a operação Lava Jato, que investiga o esquema de
desvio de verbas na Petrobras, deve gerar benefícios a longo prazo para o
Brasil.
“O destemor com que figuras anteriormente intocáveis
foram sabatinadas ou mesmo derrubadas por juízes independentes é
notável. Certamente, trata-se de um esboço que contrasta com a forma
como a corrupção é enfrentada em outros países do Bric”.
“A longo prazo, isso vai melhorar a governança no Brasil ─ uma coisa boa. No curto prazo, porém, os custos são imensos”.
Terra
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