22/11/2015 às 09h31
Integrantes
da cúpula do PMDB ligados ao vice-presidente Michel Temer avaliam que o
ousado movimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para
inviabilizar a sessão do Conselho de Ética na quinta-feira, deixou o
aliado em situação ainda mais vulnerável e já demonstram preocupação com
a disputa que pode tirar o partido do comando da Casa. O agravamento da
situação de Cunha e o esvaziamento de apoios em todos os partidos,
inclusive no próprio PMDB, colocou os caciques peemedebistas em estado
de alerta com a possibilidade de o partido perder a presidência da Casa.
Os peemedebistas destacam que o comando da Câmara é crucial para o
projeto político do PMDB de aumentar a hegemonia nas eleições municipais
de 2016 e, principalmente, para uma candidatura presidencial em 2018.
Há
um temor de que, com o enfraquecimento cada vez maior de Cunha diante
de seus pares, a sucessão pela presidência da Câmara adquira uma
dinâmica incontrolável que não termine com o que consideram um movimento
natural, que seria a manutenção do cargo com o PMDB, por ser o maior
partido na Casa. A avaliação entre essas lideranças é de que será
pequena a influência que Cunha terá para fazer seu sucessor e que pode
ser necessária uma intervenção por parte do comando do PMDB na disputa.
Os dirigentes do partido querem evitar que o governo seja o responsável
pela nomeação do próximo presidente da Casa.
— O fundamental para o
PMDB é a presidência da Câmara ficar com o partido e isso deve ser
resolvido pela direção do partido, junto com a bancada, pela importância
que isso vai ter nas eleições municipais e em 2018. É uma situação
delicada, porque sabemos que é muito difícil qualquer negociação com
Eduardo Cunha por causa da postura convicta dele — afirma um
peemedebista histórico.
As manobras de Eduardo Cunha para tentar
impedir a abertura de processo contra ele no Conselho de Ética da Casa,
causaram desconforto na cúpula do PMDB. A operação foi considerada
“muito truculenta” pela direção partidária. Não é tradição do PMDB, no
entanto, tomar a iniciativa de punir seus integrantes, ainda que haja um
sentimento de que o partido começa a ser prejudicado pela exposição
negativa.
— A situação dele piorou muito depois da coletiva em que
foi tentar convencer a versão dele sobre as contas da Suíça. Daí em
diante, houve uma piora crescente que culminou com essa manobra
desastrosa de quinta. Mas, o partido não deve tomar iniciativa diante do
quadro. As coisas estão caminhando na Câmara e o que é imputado a ele
cabe a ele mesmo resolver. Mas seria ingênuo dizer que não prejudica o
partido –— diz um dirigente do partido.
A direção do PT continua
tentando ganhar tempo, temendo que um confronto com Cunha prejudique o
governo. A preocupação é que o presidente da Câmara revide com a
abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff e que a crise política inviabilize a votação de medidas do
ajuste fiscal.
Mas, no momento em que o deputado Fausto Pinato
(PRB-SP), relator do processo contra Cunha, conseguir ler seu parecer
pela continuidade das investigações, o PT deve votar a favor. Deputados
do PT reclamam que a decisão de não dar quórum para a sessão do Conselho
de Ética não foi discutida com a bancada. Segundo petistas, a
articulação ficou restrita à direção do partido; ao líder da bancada,
deputado Sibá Machado (PT); e aos integrantes do colegiado.
A
insatisfação na bancada petista deve-se ao fato de o desgaste pelo apoio
à manobra protelatória de Cunha ser dividido entre todos. A revolta
maior é dos deputados que integram a Mensagem, segunda maior corrente
interna petista e oposição ao comando partidário. Metade da bancada do
PT assinou a representação contra Cunha feita pelo PSOL no Conselho de
Ética.
— A bancada está no limite — disse um deputado do PT.
Os
insatisfeitos cobram do líder Sibá Machado uma reunião, na próxima
terça-feira, para discutir o assunto, e tentam conseguir uma posição
partidária, com o respaldo do presidente do PT, Rui Falcão. Depois de
desembarcar da aliança que mantinha com Cunha, o PSDB tenta agora jogar o
desgaste pela sustentação do peemedebista no colo do PT. É isso que uma
parcela da bancada petista tenta evitar.
O apoio a Cunha está
minguando mesmo entre seus principais aliados. Deputados do entorno de
de Eduardo Cunha se reuniram na liderança do PTB e fizeram uma avaliação
de que “erros” foram cometidos no episódio e que houve “exagero’ na
operação, já que a expectativa era que não haveria votação do relatório
na quinta-feira. Aliados do presidente da Câmara revelaram incômodo com a
situação e analisaram que acabaram ficando em uma “saia-justa” ao
respaldarem Cunha.
As manobras desta quinta-feira reforçaram o
sentimento de um grupo restrito de pessoas próximas a Cunha que defendem
que ele deve construir uma “saída honrosa” para salvar seu mandato com a
renúncia à presidência da Câmara. Está prevista para esta semana uma
abordagem nesse sentido ao peemedebista.
OGlobo
0 comentar:
Postar um comentário
obrigado e comente sempre