Sessão
extraordinária destinada a continuar as votações da PEC da maioridade
penal na Câmara dos Deputados - (Imagem: Veja Online)
BRASÍLIA
(DF) - Em uma decisão histórica, embora reversível, a Câmara dos
Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira uma proposta que
permite a punição criminal de adolescentes a partir dos 16 anos em casos
de crimes graves.
O resultado da votação é uma vitória pessoal do presidente Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) - que, sob protestos do PT e de outros partidos
contrários à medida - reverteu a derrota de uma proposta semelhante
ocorrida menos de 24 horas antes. Houve 323 votos favoráveis, 155
contrários e duas abstenções.
O texto aprovado é um pouco mais brando do que o rejeitado na madrugada
desta quarta, o que foi suficiente para que alguns parlamentares
passassem a apoiar a redução e a emenda apreciada ultrapassasse o mínimo
necessário de 308 votos. A proposta mantém a redução da maioridade nos
casos de crimes graves contra a vida, como homicídio, estupro,
sequestro, lesão corporal seguida de morte e exploração sexual infantil.
A mudança em relação ao texto anterior significa que os adolescentes de
16 e 17 anos que praticarem tráfico de drogas, roubo qualificado,
tortura, lesão corporal grave e terrorismo não serão mais incluídos no
sistema criminal: para eles, valerá a regra atualmente em vigor.
Os adolescentes que se enquadrarem na nova regra não ficarão presos em
cadeias comuns; eles terão de ser mantidos em unidades ou alas isoladas,
de forma que também não tenham contato com os menores que cumprem
medida socioeducativa.
A proposta ainda depende de aprovação em segundo turno na Câmara dos
Deputados e do aval do Senado, onde a votação deve ser ainda mais
acirrada. Em todos os casos, é preciso ter 60% do total de deputados ou
senadores para que a proposta de emenda à Constituição (PEC) avance.
A votação foi precedida de queixas de deputados contrários à mudança na
legislação. Eles afirmavam que Eduardo Cunha desrespeitou o regimento
ao trazer o tema novamente à pauta horas depois da rejeição de uma
proposta semelhante.
Parlamentares do PT e de outras siglas de esquerda afirmaram que houve
um"golpe". O caso deve chegar ao Supremo Tribunal Federal. "Se vossa
excelência quer administrar o parlamento brasileiro por decreto ou de
ofício vossa excelência tem que apresentar um projeto para que só vossa
excelência determine as decisões a serem adotadas", disse Glauber Braga
(PSB-RJ).
Cunha e os defensores da nova emenda argumentaram que o regimento
permite que, após a rejeição de um substitutivo, a Câmara aprecie uma
proposta alternativa, desde que ela esteja baseada no texto original. No
caso, a proposta-base é a que reduz a maioridade para 16 anos em todos
os casos. Foi sobre essa proposta que o deputado Laerte Bessa (PR-DF)
construiu seu substitutivo derrotado antes.
Na discussão de mérito, o PT e o governo insistiram no argumento de que
a redução nada fará para reduzir a criminalidade. O líder do governo,
José Guimarães (PT-CE), pediu mais tempo para a construção de um
"entendimento": "O caminho é a reforma do ECA, principalmente naqulo que
é fundamental, que é a ressocialização", afirmou.
Já o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), defendeu a aprovação da
medida: "A proposta é equilibrada e restrita. É a resposta pela qual a
sociedade anseia porque não aceita mais a impunidade", afirmou.
Após a sessão, Eduardo Cunha citou o regimento da Casa para afirmar que
não há risco de impugnação da votação. "Não há o que contestar. Ninguém
é maluco", dise ele. O peemedebista também ironizou as críticas dos
petistas à condução dos trabalhos: "Eles têm dois pesos e duas medidas.
Na verdade, eles foram derrotados na sua ideia porque a maioria da
população brasileira quer isso".
De Veja Online
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